ATIVIDADE
( 1 ) DE
ELETIVA TEATRO do 3° bimestre . 6 B e 8 A PROFESSORA REGINA
OBJETIVO: analisar e evidenciar
os elementos constitutivos do gênero texto dramático.
HABILIDADES: Analisar, entre os textos literários e entre estes
e outras manifestações artísticas (como cinema, teatro, música, artes visuais e
midiáticas), referências explícitas ou implícitas a outros textos, quanto aos
temas, personagens e recursos literários e semióticos; Identificar, em texto
dramático, personagem, ato, cena, fala e indicações cênicas e a organização do
texto: enredo, conflitos, ideias principais, pontos de vista, universos de
referência.
O texto a seguir é um fragmento do "Auto da
Compadecida", de Ariano Suassuna, uma peça teatral de fundo popular e
religioso.
O trecho faz parte da cena do julgamento, na
qual as personagens, após a morte, aguardam uma decisão quanto a seu futuro. O
Encourado, que as recebe, manda o Demônio levá-las para o inferno. As
personagens, aos gritos, resistem. Repentinamente, João Grilo, falando bem
alto, diz que tem direito a um julgamento. As outras personagens o apoiam.
Nesse momento, pancadas de sino começam a soar. O Encourado fica agitado.
"JOÃO GRILO - Ah! pancadinhas benditas! Oi,
está tremendo? Que vergonha, tão corajoso antes, tão covarde agora! Que
agitação é essa?
ENCOURADO - Quem está agitado? É somente uma
questão de inimizade. Tenho o direito de me sentir mal com aquilo que me
desagrada.
JOÃO GRILO - Eu, pelo contrário, estou me
sentindo muito bem. Sinto-me como se minha alma quisesse cantar.
BISPO, estranhamente emocionado. -
Eu também. É estranho, nunca tinha experimentado um sentimento como esse. Mas é
uma vontade esquisita, pois não sei bem se ela é de cantar ou de chorar.
Esconde o rosto entre as mãos. As pancadas do
sino continuam e toca uma música de aleluia. De repente, João ajoelha-se, como
que levado por uma força irresistível e fica com os olhos fixos fora. Todos
vão-se ajoelhando vagarosamente. O Encourado volta rapidamente as costas, para
não ver o Cristo que vem entrando. É um preto retinto, com uma bondade simples
e digna nos gestos e nos modos. A cena ganha uma intensa suavidade de
Iluminura. Todos estão de joelhos, com o rosto entre as mãos.
ENCOURADO, de costas, grande grito, com
o braço ocultando os olhos - Quem é? É Manuel?
MANUEL - Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho
de Davi. Levantem-se todos, pois vão ser julgados.
JOÃO GRILO - Apesar de ser um sertanejo pobre e
amarelo, sinto perfeitamente que estou diante de uma grande figura. Não quero
faltar com o respeito a uma pessoa tão importante, mas se não me engano aquele
sujeito acaba de chamar o senhor de Manuel.
MANUEL - Foi isso mesmo, João. Esse é um de meus
nomes, mas você pode me chamar também de Jesus, de Senhor, de Deus... Ele gosta
de me chamar Manuel ou Emanuel, porque pensa que assim pode se persuadir de que
sou somente homem. Mas você, se quiser, pode me chamar de Jesus.
JOÃO GRILO - Jesus?
MANUEL - Sim.
JOÃO GRILO - Mas, espere, o senhor é que é Jesus?
MANUEL - Sou.
JOÃO GRILO - Aquele Jesus a quem chamavam
Cristo?
JESUS - A quem chamavam, não, que era Cristo.
Sou, por quê?
JOÃO GRILO - Porque... não é lhe faltando com o
respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado.
BISPO - Cale-se, atrevido.
MANUEL - Cale-se você. Com que autoridade está
repreendendo os outros? Você foi um bispo indigno de minha Igreja, mundano,
autoritário, soberbo. Seu tempo já passou. Muita oportunidade teve de exercer
sua autoridade, santificando-se através dela. Sua obrigação era ser humilde
porque quanto mais alta é a função, mais generosidade e virtude requer. Que
direito tem você de repreender João porque falou comigo com certa intimidade?
João foi um pobre em vida e provou sua sinceridade exibindo seu pensamento.
Você estava mais espantado do que ele e escondeu essa admiração por prudência
mundana. O tempo da mentira já passou.
JOÃO GRILO - Muito bem. Falou pouco mas falou
bonito. A cor pode não ser das melhores, mas o senhor fala bem que faz gosto.
MANUEL - Muito obrigado, João, mas agora é sua
vez. Você é cheio de preconceitos de raça. Vim hoje assim de propósito, porque
sabia que isso ia despertar comentários. Que vergonha! Eu Jesus, nasci branco e
quis nascer judeu, como podia ter nascido preto. Para mim, tanto faz um branco
como um preto. Você pensa que eu sou americano para ter preconceito de raça?
PADRE - Eu, por mim, nunca soube o que era
preconceito de raça.
ENCOURADO, sempre de costas para Manuel -
É mentira. Só batizava os meninos pretos depois dos brancos.
PADRE - Mentira! Eu muitas vezes batizei os
pretos na frente.
ENCOURADO - Muitas vezes, não, poucas vezes, e
mesmo essas poucas quando os pretos eram ricos.
PADRE - Prova de que eu não me importava com
cor, de que o que me interessava...
MANUEL - Era a posição social e o dinheiro, não
é, Padre João? Mas deixemos isso, sua vez há de chegar. Pela ordem, cabe a vez
ao bispo. (Ao Encourado.) Deixe de preconceitos e fique de frente.
ENCOURADO, sombrio - Aqui estou
bem.
MANUEL - Como queira. Faça seu relatório
JOÃO GRILO - Foi gente que eu nunca suportei:
promotor, sacristão, cachorro e soldado de polícia. Esse aí é uma mistura disso
tudo.
MANUEL - Silêncio, João, não perturbe. (Ao
Encourado.) Faça a acusação do bispo. (Aqui, por sugestão de Clênio Wanderley,
o Demônio traz um grande livro que o Encourado vai lendo.)"
# Exercícios:
1. O texto teatral e o texto narrativo
apresentam semelhanças: tanto um quanto o outro narram fatos vividos por
personagens em determinado tempo e lugar.
a) Qual é o fato principal desse texto?
b) Onde possivelmente ocorrem os fatos?
c) Qual é, aproximadamente, o tempo de duração
dessa cena?
2. Nesse texto, o narrador está ausente. Apesar
disso, conseguimos ter uma visão ampla acerca das personagens.
a) Que ideia você faz de João Grilo e do bispo?
b) De que forma as características de cada
personagem nos são reveladas, se não há narrador?
3. No texto teatral, as falas das personagens
assumem um papel de destaque na construção da história. Como é reproduzida a
fala das personagens: pelo discurso direto e indireto?
4. Há, no texto teatral, alguns trechos em letra
do tipo diferente, ou seja, itálico, como, por exemplo:
"BISPO, estranhamente
emocionado
Todos vão se ajoelhando vagarosamente
ENCOURADO, sempre de costas
para Manuel"
Qual é a função desses trechos?
5. O texto teatral é escrito para ser
representado. Nessa cena, que tipo de variedade linguística predomina:
a) culto formal b) culto informal
c) regional d) popular
6. Quando se lê um texto teatral, o leitor é o
interlocutor do drama vivido pelas personagens. Quem é o interlocutor quando o
texto teatral é representado?
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